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Blog do Gesner Oliveira

No frio danado de Davos, uma brisa modernizante na América Latina

Gesner Oliveira

25/01/2018 20h58

Em 2018, cerca de 425 milhões de latino-americanos, ou 2 de cada 3 habitantes da região, se preparam para ter novos governos. Pouco mais de 80% do PIB da região pode terminar o ano nas mãos de governos de centro-direita: as eleições na Colômbia ocorrem dia 27 de maio, no México dia 1º de julho e no Brasil dia 7 de outubro. Maurício Macri foi eleito na Argentina em 2015 e recentemente saiu vitorioso das eleições legislativas. Sebastian Piñera venceu as eleições no Chile em dezembro do ano passado.

Há hoje uma visão cada vez mais disseminada entre os países de que as políticas econômicas precisam olhar mais para infraestrutura, produtividade, desburocratização, acordos comerciais e redimensionamento do tamanho do Estado. Tudo isso seguindo a regra básica de gastar apenas aquilo que o orçamento permite.

Os desafios na região foram tema de painel na conferência anual do Fórum Econômico Mundial desta semana, em Davos, na Suíça. Os impactos da globalização, a diversificação da pauta exportadora e o aprimoramento da mão de obra foram alguns dos tópicos levantados. Mas o que mais preocupa é o início de um novo ciclo eleitoral. Haverá um retorno do populismo? Ou um maior apoio ao livre comércio e uma agenda reformista?

Depois de um forte crescimento de 6,1% do PIB em 2010, a América Latina desacelerou até passar por dois anos de recessão no biênio 2015/16. 2017 foi um ano de inflexão não só para o Brasil como para a região, que deve ter crescido algo em torno de 1%. As projeções para este ano são mais otimistas, com projeção de expansão superior a 2%.

Elevações nos preços de commodities como petróleo, minério de ferro e produtos agrícolas foram acompanhadas de ciclos de crescimento na região e, em determinados contextos, associados a governos populistas. Em tempos de vacas gordas, tem dinheiro para políticas distributivistas sem compromisso com a sustentabilidade fiscal.

Quando houve queda nos termos de troca, isto é, da relação entre o preço das exportações e das importações houve propensão à crise econômica na região.

Foi o que ocorreu, por exemplo, no período entre 2010 e 2016, com o preço médio das commodities tendo caído pela metade. Segundo dados da Cepal, os termos de troca de países latinos caíram 17% no período. Atualmente quase todos os países registram déficit fiscal, que em mais de um quarto dos casos representam mais de 5% do PIB.

No passado, crises econômicas em épocas de vacas magras levaram muitos países à ditadura. Hoje, apesar da enorme insatisfação com a classe política e da crise de representatividade, e da recente melhora nos preços das commodities, há algo novo na região, uma espécie de brisa modernizante.

Macri na Argentina limitou os gastos públicos, eliminou impostos que prejudicam a competitividade e reformou a Previdência. Os índices de confiança têm melhorado e a economia também, o que inclusive beneficiou as exportações do setor automotivo brasileiro. Em estágio mais avançado, o Chile também tem debatido a questão da Previdência. Políticas econômicas nesse sentido também têm se manifestado na Colômbia e no México o maior risco é o Trump, que com mais alguns tuítes impertinentes pode eleger um programa do passado como o de Lopez Obrador.

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

Gesner Oliveira