Incertezas na era pós-Lula
A condenação unânime em segunda instância do ex-presidente Lula gerou um clima de euforia que pode ser revertido a qualquer momento. Isso porque diminuíram as chances de um candidato competitivo e apoiado por uma coalizão declaradamente contrária às reformas. Será?
O resultado de 3 a 0 enfraqueceu a narrativa do PT e restringiu a margem para recursos por parte da defesa. O julgamento como evento midiático, aliado a focos controlados de mobilização de rua, acabou gerando a percepção de que o afastamento da candidatura Lula é possível. Mas Lula não está morto.
Várias dúvidas persistem, colocando limites à onda de otimismo na Bolsa nos dois últimos pregões da semana passada. Três pontos chamam atenção. Primeiro, não se deve subestimar a capacidade da defesa de Lula de postergar o processo. É verdade que a margem para recursos ficou reduzida, mas com um pouco de imaginação no sistema jurídico brasileiro, pode-se ganhar muito tempo. O suficiente, por exemplo, para chegar a inscrição da candidatura no TSE. Um eventual recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF) pode adiar de vez a decisão.
Segundo, a cabeça do eleitor é quase tão imprevisível quanto a do juiz. Os primeiros sinais de como ficará a corrida eleitoral saem nos próximos dias com as pesquisas do Ipsos e do Datafolha. Há duas questões chave: se Lula continua liderando ou até se tornando mais competitivo; e para onde iriam seus votos em caso de queda nas pesquisas.
Por ora, a hipótese de eventual fortalecimento de uma candidatura de centro é apenas isso: uma hipótese. Especialmente se não houver uma plataforma alternativa favorável às reformas e com apelo popular. Tal possibilidade depende em grande medida da continuidade da recuperação da economia e, mais importante, da percepção de bem-estar que a recuperação venha a provocar no eleitor.
Isso leva ao terceiro ponto da reforma da Previdência, com previsão para ser votada após o Carnaval. No ano passado, o déficit da Previdência Social chegou a R$ 269 bilhões, o maior rombo desde o início da série histórica, em 1995. Não adianta a economia recuperar hoje se o amanhã continua incerto. Mesmo com inflação sob controle e a baixa dos juros, o insucesso com a aprovação da reforma abalará o otimismo do mercado, o suficiente para dar muito susto para quem investe na Bolsa.
O Brasil pode estar prestes a surfar uma onda de otimismo. Mas muita água vai rolar. A era pós-Lula mal começou, mas já está repleta de incertezas.
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