A crise não voltou (ainda)
A economia está em uma situação delicada, mas é importante avaliar a atual conjuntura em perspectiva comparada. A propaganda do Governo tenta convencer que está tudo às mil maravilhas. As diferentes correntes de oposição, ou da própria base aliada, agora tomando outros rumos, quer negar que tenha havido qualquer avanço. Nem uma coisa nem outra.
O país saiu da recessão. A expansão do PIB não será de 3% conforme previa o governo, mas algo em torno de 2%. Ainda aquém do necessário para diminuir significativamente a taxa de desemprego. Mas bem melhor do que a queda livre no biênio 2015/16 que levou a uma redução do PIB per capita de mais de 10%.
O dado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) sobre emprego, divulgado na última sexta-feira, é ilustrativo desta situação melhor que da crise anterior, mas longe de uma retomada forte. Foram geradas cerca de 115 mil vagas formais de emprego, melhor número para um mês de abril desde 2014 (132 mil), mas menor do que a média para o mês de abril no período 2004-17 (178,8 mil).
Há pressões inflacionárias que começam a preocupar. Os combustíveis, com a alta do petróleo, e os importados, com o aumento do dólar, já estão dando dor de cabeça. O aumento do diesel foi o motivo da greve dos caminhoneiros. A quebra da chamada safrinha do milho coloca novo problema, que poderá afetar o preço dos alimentos. A Pesquisa Focus divulgada hoje acusou pela primeira vez em 4 semanas uma elevação da projeção de inflação para este ano de 3,45% para 3,50%.
Uma comparação com a Venezuela pode servir de referência para aquilo que configura uma profunda crise para ninguém botar defeito. A inflação anual supera 13.000%, o desemprego chega a mais de 37% e o PIB deverá cair este ano 15%, acumulando queda de 45% desde 2014.
Não deixa de ser uma ironia que um dos países mais ricos em petróleo tenha seu PIB reduzido a pouco mais da metade em apenas quatro anos. Isso em um período de alta desta matéria-prima.
Mas mesmo tendo melhorado no período recente, a economia não aguenta muito desaforo, especialmente quando as condições externas não ajudam. O tempo está passando e a agenda econômica no Brasil continua parada desde a suspensão da reforma da previdência.
As condições externas são muito mais difíceis na atualidade do que no período 2012-15, quando o Brasil fabricou boa parcela de sua própria crise. Se não houver uma consciência dos limites da economia, o país poderá enveredar pelas perigosas rotas de um retrocesso ou mesmo se aproximar dos caminhos que levaram ao desastre venezuelano.
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