Chantagem corporativista ameaça a frágil recuperação
Com o anúncio do novo acordo com as lideranças dos caminhoneiros, a expectativa é de retomada dos trabalhos dos caminhoneiros, encerrando uma paralisação desastrosa sob todos os pontos de vista.
Os últimos dias ilustraram um espetáculo de falta de autoridade, descoordenação, despreparo, covardia e oportunismo. Em todas as esferas de Governo, nos três poderes e em diversas organizações da sociedade. O resultado foi o sucesso de uma chantagem corporativista com elevado custo social.
Não é por acaso que a bolsa despencou, o dólar subiu e a Pesquisa Focus do Banco Central, divulgada hoje, registra uma queda da expectativa de projeção do PIB (de 2,50% para 2,37%), uma elevação da inflação (de 3,50% para 3,60%) e um acréscimo da Taxa Selic (de 6,25% para 6,5%).
Os custos associados ao novo acordo podem ser divididos em quatro partes. Em primeiro lugar, um estado quebrado será obrigado a despender R$ 9,5 bilhões, segundo estimativa oficial.
Em segundo lugar, os efeitos de uma paralisação prolongada dos caminhoneiros, em um país de dimensões continentais e excessivamente dependente do transporte rodoviário, não poderiam ser diferentes.
A interrupção da circulação e transporte das mercadorias e fornecedores de serviços impôs à sociedade um custo gigantesco, cuja proporção supera até agora a casa dos R$ 25 bilhões. Sem contar a desvalorização da maior empresa brasileira, a Petrobras, que perdeu mais de R$ 50 bilhões em valor de mercado desde o início do movimento.
Em terceiro lugar, as medidas adotadas carecem de fundamentação econômica. Não há sentido em subsidiar o óleo diesel, altamente poluente e concorrente de combustíveis renováveis, nos quais o Brasil tem vantagem comparativa.
Por sua vez, é absurdo fixar uma tabela de preços de frete em uma atividade de mercado; é um retrocesso reintroduzir a prática de tabelamento, sabidamente ineficaz. Isso retira eficiência do mercado e só interessa a empresas que preferem o conforto da cartelização em vez da livre concorrência.
Tampouco faz sentido garantir uma reserva de mercado nas licitações da Conab para um grupo específico, seja ele qual for. Isso torna os certames menos competitivos e, portanto, mais caros para o abastecimento, já onerado pelo frete mínimo.
Isso não quer dizer que a situação pré-paralisação fosse ideal. O forte choque dos preços internacionais do petróleo, aliado ao aumento do dólar, exigiria soluções técnicas mais consistentes para atenuar os impactos sobre a cadeia de óleo e gás, especialmente para as empresas menores e trabalhadores autônomos.
Em quarto lugar, o pior efeito sobre a economia está associado às expectativas. A percepção de ausência de autoridade gera insegurança. Chama atenção o oportunismo de várias forças políticas e a omissão de governos estaduais, municipais e do Ministério Público, entre outros, que diante de ilegalidades flagrantes não tomam nenhuma iniciativa.
Como um grupo pode impedir que combustível seja transportado para o transporte público e oxigênio para os hospitais e ficar impune?
Nesse quadro de terra sem lei, é razoável supor que decisões de investimento e consumo serão postergadas. A consequência é uma desaceleração da economia cuja recuperação já era frágil. O resultado só pode ser de maior lentidão na redução do desemprego, prejudicando ainda mais milhares de famílias que amargam o custo do baixo crescimento, agravado agora pela chantagem corporativista.
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