Futebol global, economia caipira
Não tem mais bobo no futebol. Os primeiros resultados da Copa do Mundo revelam isso de forma clara. Argentina, Alemanha e Brasil e quase a França tropeçaram em adversários supostamente "fáceis".
O número de goleadas nas Copas vem caindo sistematicamente ao longo do tempo. Nas seis primeiras Copas do Mundo, 27,14% dos jogos terminaram com goleadas (diferença de três gols ou mais) contra 13,71% nas últimas seis Copas.
É fácil entender porque. Os dribles e estratégias são difundidos rapidamente pelo planeta; o suficiente para um atacante suíço ousar um elástico em um zagueiro brasileiro.
Em contraste, as políticas econômicas nacionais parecem retroceder na globalização da economia. Ironicamente, isso é promovido pela principal nação capitalista, os Estados Unidos. A gestão de Donald Trump promove ataque letal ao comércio multilateral. A imposição de tarifas sobre produtos chinesas, abrangendo universo de cerca de US$ 50 bilhões, ilustra bem esse fato.
Como seria esperado nessa situação, houve uma retaliação imediata por parte da China, que elevou os impostos de importações contra os Estados Unidos na mesma proporção. O impacto para os países emergentes e o Brasil, em particular, pode até ser positivo pontualmente e no curto prazo. Por exemplo, poderia aumentar o espaço de venda de soja brasileira para o mercado chinês.
No entanto, no médio prazo, o protecionismo representa menor volume de comércio e consequentemente menores escalas e maiores custos. Isso resulta em maiores pressões inflacionárias. Na medida em que venha a ocorrer nos Estados Unidos, fica reforçada a tendência à alta dos juros naquele país. Dinheiro mais caro nos Estados Unidos é sinônimo de dólar nas alturas no resto do mundo.
Nesse contexto, as oportunidades de acordos comerciais, para um bloco frágil como o Mercosul, são pequenas. A novela do acordo entre União Europeia e Mercosul voltará à mesa na reunião de cúpula que ocorre hoje em Luque, no Paraguai. Ainda há esperança de arranjos menos ambiciosos com o Canadá e a Coréia do Sul.
Moral da história: há mais razão para se preocupar com a guerra comercial entre Estados Unidos e China do que com o futuro da seleção na Copa. É só não entrar de salto alto que o time passa pelo menos para as oitavas de final.