Três choques frustraram maior crescimento em 2018
2018 é um copo meio cheio e meio vazio. É um copo meio cheio porque foi o segundo ano de recuperação econômica. A recessão de 2015/16 é passado. É um copo meio vazio porque o crescimento ficou aquém do esperado: metade do previsto pelo mercado em dezembro de 2017; 2,7% contra 1,3%, segundo a Pesquisa Focus do Banco Central.
Três eventos marcaram 2018 e explicam a frustração com a expansão: valorização do dólar em escala mundial, a greve dos caminhoneiros e uma das eleições mais acirradas da história brasileira.
O aumento do preço do dólar elevou o custo dos importados e gerou pressão sobre a inflação. A isso se somou o ciclo de alta do petróleo, que pressionou ainda mais os preços dos combustíveis, especialmente do diesel e da gasolina. Tudo isso em um momento em que a Petrobras resolveu recompor seus preços.
Deu no que deu. O movimento dos caminhoneiros, que já vinha se articulando há algum tempo, ganhou força e culminou com uma das piores paralisações do setor no país.
Apesar de ter sido um evento pontual em maio, a greve dos caminhoneiros teve um efeito devastador sobre a produção e os preços no segundo trimestre. E pior, sobre as expectativas.
Além da desorganização da economia com os bloqueios nas estradas, o mais importante modal de transporte deste país excessivamente rodoviário, a "solução" adotada com o congelamento dos preços do diesel e do tabelamento do frete foi absurda. Caberá ao governo Bolsonaro consertar o estrago.
A agenda de projetos prioritários para ajuste da economia ficou muito aquém do esperado. A perda de capital político por parte do governo Temer retirou a possibilidade de retomar a reforma da Previdência Social, que havia sido suspensa com a intervenção militar, no Rio de Janeiro, em fevereiro.
Apesar disso, algumas medidas importantes foram tomadas, como a privatização das distribuidoras da Eletrobras, concluída com a venda da companhia de Alagoas na última semana.
Por fim, e não menos importante, a incerteza associada às eleições prejudicou a atividade econômica. Durante a maior parte do processo eleitoral, perdurou a incerteza de quem seriam os candidatos; e as pesquisas indicavam alta probabilidade de vitória de candidatos anti-reformistas. Isso levou a uma situação de compasso de espera para a realização de investimentos e contratação de trabalhadores.
Embora turbulento, 2018 termina com bons indicadores de curto prazo. A inflação deve ficar abaixo dos 4,0%, pelo segundo ano consecutivo abaixo da meta, de 4,5%. A taxa básica de juros, a Selic, chegou na mínima histórica, de 6,5%, contra 14,25% em 2016. As reservas internacionais superam US$ 380 bilhões.
Por sua vez, existe capacidade ociosa na economia e subocupação da mão de obra superior a 23%, permitindo crescer sem pressionar tanto os custos. E, se depender de São Pedro, a economia brasileira já está sendo ajudada com perspectiva de safra recorde de 2018/19.
O ano de 2018 foi pior do que o esperado, mas não representou um retrocesso. É um ponto de partida razoável para o desafio do governo Bolsonaro de acelerar o ajuste da economia em 2019.
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