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Blog do Gesner Oliveira

Controle de preço do diesel por Bolsonaro faz lembrar intervenções de Dilma

Gesner Oliveira

12/04/2019 16h40

A ingerência do governo no cancelamento de reajuste no preço do óleo diesel previamente anunciado pela Petrobras é um tiro no pé.

De acordo com a política de preços da estatal, que leva em conta a cotação do barril de petróleo no mercado internacional, o diesel deveria ser reajustado em 5,7% e passaria a custar R$ 2,26 na refinaria.

A interferência governamental na política de preços da Petrobras tem sido historicamente nefasta. Não precisa ir muito longe. A experiência recente ainda está viva na memória de todos que pagam a conta de dezenas de bilhões de reais deixada pelo governo Dilma Rousseff.

Qualquer sinal de volta a tal política gera uma preocupação justificada. O controle de preço não arrebenta apenas a conta da Petrobras; no final cai no colo do Tesouro Nacional, ou seja, no seu bolso.

Além do rombo, a intervenção nos preços dos combustíveis causa também todo tipo de distorção na cadeia produtiva ao inviabilizar atividades de outros segmentos, como o refino e a própria importação de combustíveis, necessária como ajuste de oferta de demanda de combustíveis.

A determinação de Bolsonaro vai contra a política econômica do próprio governo Bolsonaro. Repete-se, assim, o tabelamento de frete negociado pelo governo Temer que bateu de frente com a política econômica do próprio governo Temer. Não é possível que falte tanta imaginação para enfrentar o problema dos caminhoneiros.

Isso gera apreensão e faz a Bolsa cair e o dólar subir. As ações ordinárias e preferenciais da Petrobras tiveram forte queda após a companhia desistir do aumento do preço do diesel nas refinarias. O árduo trabalho de resgate da credibilidade da gestão da empresa fica arranhado com interferências desse tipo.

O interesse da iniciativa privada nas refinarias e consequentemente o sucesso do programa de desestatização dependem de uma política de preços realista. Mas quem vai querer investir no refino se, a qualquer momento, o governo pode mudar as regras do jogo?

E nesse contexto, qual a função do órgão regulador do setor, a Agência Nacional do Petróleo? Afinal, é importante saber quem decide a política de preços. Se é a Presidência da República, a empresa ou o regulador.

Enquanto não houver clareza sobre quem manda e respeito às regras de mercado, o país não vai para frente.

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

Gesner Oliveira